09/11/2017

Textão impensável num perfil comercial? Aqui tem, porque a gente é impensável, mesmo  😏

É que hoje quero dividir um pouco da alegria que senti pelo processo e finalização de um produto novo: nosso peso de porta. Bora que a história é longa.

Confesso que é uma peça que nunca pensei em fazer; cheguei a costurar uns dois aqui para casa, mas bem simples, só uma “almofadinha” com umas pedrinhas dentro.

Eis que no começo deste ano vivenciei um período de parceria com a Mais Alma. Não conhece ainda? Conheça, sério. É uma plataforma voltada para o consumo consciente, com uma curadoria belíssima de marcas que compartilham da mesma visão. Agora passaram por uma reformulação e não têm mais peças de casa e decoração, por isso não seguimos juntas, mas o aprendizado no período deste breve encontro foi grande e ficou. Uma das coisas mais legais é que na ocasião, para me juntar à plataforma, precisei responder um questionário cheio de perguntas sobre meu processo produtivo. E, pra mim, isso significa oportunidade de reflexão e, por que não, de autocrítica. Uma das perguntas era justamente sobre destinação de resíduos. E olha, produção têxtil gera muito resíduo, mesmo num processo artesanal como o nosso, então aqui não foi diferente. Desde o comecinho de Folias eu guardava pedaços de tecido que pudessem resultar em retalhos de um determinado tamanho mínimo; o problema era justamente o que nem chegava nesse tamanho; fora pedaços de outros materiais que não conseguiria utilizar em peça alguma, como entretelas ou lonitas, e que escapavam do “corte de retalhos pra uma futura colcha”, que contemplava apenas sarjas coloridas ou lindos tecos de tricoline estampada. Por um ou dois anos isso foi pro lixo, o geralzão, mesmo, pois na época eu sequer separava meu lixo doméstico. Depois isso começou a me incomodar muito, e passei a guardar tudo. Não sabia o que faria, mas não queria simplesmente botar fora sem maior cuidado. E nessa brincadeira, dá-lhe sacolas cheias de sobras de material pelos cantos da oficina, que como muita gente sabe, é só um quarto de bom tamanho no meu apartamento – imaginem o acúmulo e o incômodo aumentando...

Corta para o começo de 2016; numa parceria linda com a Jequitibá Cultural, fiz alguns cenários para shows musicais, e como o clima das apresentações era bem intimista, um dos elementos que a gente usava eram almofadas no chão para parte do público. Também costurei algo que não é nem exatamente um tapete, nem um futon... eram umas almofadas grandes e retangulares que enchi com todas aquelas sobras que tinha aqui, bem picotadas e misturadas com fibra siliconada, pra ficar mais pesado e firme e as pessoas poderem sentar em cima. Isso zerou o material acumulado na época, mas... no final do ano já tinha novas sacolas incômodas aparecendo. Foi justamente quando conheci a Mais Alma, que entre outras coisas, me perguntou: o que você faz com seus resíduos?

Isso foi ótimo, porque na verdade se tornou uma pergunta para o futuro. Eu sabia que aquele material para o cenário tinha sido pontual e era apenas um quebra-galho, não um produto. Diante disso, duas coisas começaram a acontecer:

- passei a guardar TODAS as sobrinhas de tecido - e tô falando de filetes de 1cm – de maneira que o cesto de lixo da oficina não tivesse mais qualquer fibra têxtil nele.
- comecei a me perguntar seriamente sobre o que faria com isso. E decidi que não queria mandar para reciclagem (sim, tem empresas que fazem), mas sim criar um produto em que esse material fosse utilizado, de maneira que conseguíssemos aproveitamento total do que compramos.

Pensa, pensa, rascunha, conversa com outras pessoas. Ainda bem no comecinho do ano pensei nos tais pesos de porta, mas como eles, no geral, não me atraem esteticamente, minha resposta pra mim mesma foi outra pergunta, bem desdenhosa “Nhá! De quantos pesos de porta o mundo precisa, afinal? Já tem muito disso, pensa em outra coisa”. Um monte de sugestão aparece: almofadinhas bem firmes para apoiar partes do corpo dos pacientes de fisioterapia nas sessões, rolinhos pra decoração, colchõezinhos firmes para pets. Mas tudo parecia ter um empecilho, nenhuma ideia me apaixonava ou eu me sentia apta a fazer.

Agosto de 2017, a sugestão chega de novo, agora pela minha irmã: faz um peso de porta! E de repente, sei lá o motivo, dessa vez a peça simplesmente apareceu pronta na minha cabeça e a resposta foi rápida e sem hesitação: sim, farei. Alguns pilotos depois, eis aqui, do jeito que imaginei. Simples, elegante, miolo triangular com tecido picado pra dar forma e concreto pra pesar, com uma capa que sai facilmente e pode ser lavada – ou simplesmente trocada se quiser variar a cor. Atemporal, sóbrio, preciso. E fecha o nosso ciclo (em outro textão, mais pra frente, eu explico que ciclo é esse).

A cereja do bolo de contentamento? Eu coloquei este produto na loja tem pouquíssimos dias e não falei dele em lugar algum, zero divulgação. Ainda assim despachei hoje o pedido de uma mesma cliente que quis 3 peças completas + 3 capas. Então tô imaginando que tem espaço pra esse item como estou apresentando, que ficou prático, que tá bonito.

É isso; aqui tem algumas fotos e também o link pra loja. Adorei tudo: ter pensando sobre este aspecto da minha produção, ter me colocado o desafio de criar uma peça para este material, ter de cara um pedido que me faz acreditar ser uma peça vendável e bacana e, por fim, poder dizer que todo e qualquer tecido que entra aqui nessa oficina é aproveitado e sai daqui como produto. Viva! 🎉

Sobre a belezura, aqui.

Agradecimentos nesse processo: Ana e Julia, da Mais Alma / Sil e Alaide, pelas ideias / Wagner, O Sócio / Debora, Rodrigo e Lanakaná Princípios Sustentáveis - Consultoria em Sustentabilidade, pela semente que plantaram por aqui, que tenho cultivado com carinho e do jeito que posso 🌷

Um beijo 😘💕